Os bilhetes foram comprados com sete meses de antecedência. "Às tantas ainda morro antes do concerto", pensei eu, e vá de pagar seguro de bilheteira. Assim a mãe ainda podia ir buscar os 75 euritos. Não será preciso dizer que os sete meses passaram a voar, coisa que acontece desde os meus 20 anos, não sei muito bem porquê. Estou aqui estou na reforma, e por este andar, velha tesa sem dinheiro sequer para medicamentos. Adiante, tenho que dar os parabéns aos gajos da Renex, além das viagens serem bem mais baratas que o comboio, além do facto de ainda haver desconto em caso de concerto, os autocarros são impecáveis. Limpinhos e confortáveis, a sair à hora marcada (coisa rara) e senhores simpáticos a conduzir. A repetir num próximo concerto, portanto.
Chegada à capital, trânsito caótico, rumo ao Pavilhão Atlântico fomos ainda comer qualquer coisa ao Só Peso do Vasco da Gama (não é propriamente barato, mas tinha pouca gente e tal e nós queríamos despacharmo-nos). Demorei menos tempo a jantar do que na fila para ir a uma casa de banho. Não sei o que se passa, mas sempre que vou àquele shopping há filas enormes para usar os lavabos. Das duas uma, ou aquele shopping tem qualquer poder que faz com que às mulheres que lá entrem dê uma grande vontade de mijar (sim, porque só havia filas enormes nas casas de banho das senhoras) ou então o shopping é maioritariamente frequentado por mulheres consumistas e mijonas.
Depois de entrar no dito pavilhão, mais ou menos a 20 minutos de começar o espectáculo, achei que àquela hora o pavilhão já deveria estar quase cheio. Entraram em palco os Naturally 7, a banda que foi fazer a primeira parte. Os gajos são muito bons. Fazem música sem instrumentos. Tudo sons produzidos pela destreza vocal de cada um dos elementos da banda. Uma coisa assim mesmo muito gira. Então, quando eles entraram comecei eu a ferver. "Queres ver que os gajos da Fnac me enganaram quando eu fui comprar os bilhetes e me disseram que já não havia lugares livres lá para a frente?" Foi o que eu pensei. Sim, porque eu queria um lugarzinho mesmo à frente onde fosse capaz de ver os pelos do nariz do Bublé. Foi então que um pensamento fugaz mas ilucidativo me passou pela cabeça. Eu estava em Portugal. E portanto o pavilhão só encheu assim uns 2 minutos antes das nove ( já depois dos sete senhores se terem sumido), ainda que visse pessoas a entrar já o Michael cantava a segunda música.
Ora então fiquei no primeiro balcão do lado esquerdo (de quem está de frente para o palco) na fila exactamente acima à do Fernando Mendes e vi tudo muito bem. Quando o Bublé entrou quase entrava em colapso. Foi uma entrada assim cheia de pinta. O homem não só é lindo e maravilhoso (ainda mais bonito ao vivo do que nas revistas e na tv, o que me leva a pensar que ele não é lá muito fotogénico) como é simpático, charmoso, fala bem (e muito) e é engraçado e é lindo mais um bocado e maravilhoso outra vez. E depois, canta. E canta bem. E canta músicas lindas. Fosse eu dada ao histerismo e saía de lá descabelada e rouca. Mas não, eu sei como me comportar e, além disso, tinha um casal de idosos ao meu lado, muito chiques e finos e eu não queria fazer má figura. E depois fiquei a morrer de inveja daquele gente, que deve ser rica, que ficou nas primeiras filas. O que é isso de andar a beijar e abraçar o moço? Comigo ali em cima a ver. E fiquei também cheia de pena de não ter levado a minha machine fotográfica (oferecida por ter assinado a revista Volta ao Mundo) que é muito boa e era capaz de ter tirado boas fotos. Desde que um segurança do tamanho de um armário me amanhou uma máquina num concerto de Rammstein no Coliseu de Lisboa, nunca mais levei máquinas a concertos. Isso e o facto de, normalmente, as máquinas pequenas não tirarem lá grandes fotos a 50 metros de distância também ajuda. Vai daí roubei do facebook estas duas fotos que estão em baixo e que ficaram muito bem. Deve dar para ter uma ideia da coisa. O cenário estava muito lindo e a banda toca maravilhosamente bem.
A verdade é que gostei muito, valeu cada cêntimo do bilhete. E durante o concerto deu-me uma sensação que só tive em alguns momentos especiais da minha vida. A vida é boa. E que vida boa eu tenho quando tenho oportunidade de desfrutar de momentos destes. Agora é ficar à espera que ele volte, como prometeu, para eu acampar à porta das bilheteiras (como fazem os malucos que querem ver U2) para comprar bilhetes para a primeira fila e poder apreciar aqueles ricos pelos do nariz.
(foto: Cláudia Aguizo)
(foto: Patrícia Seabra)